20 de agosto de 2008

Uma visita à Veterinária

Há uns dias atrás (dia 4 de Agosto, para sermos exactos) o meu dono levou-me à veterinária. Deixou-me lá de manhã (às 11h) mas estranhamente só me foram buscar (ele e a vovó Zélia) quase às 7 da tarde. Digo estranhamente porque não me lembro de ter passado tanto tempo. Só me lembro da veterinária me fazer umas festas boas e de ter adormecido. Quando acordei, ainda zonzo do sono (condição que se estenderia por umas boas 36 horas mais) tinha os pelos à volta da genitália rapados. Estranho, certo?

Enfim, o Pedro pediu-me para escrever algo sobre o assunto e decidi conceder-lhe esse privilégio; afinal de contas, ele faz-me tantas festas, que de alguma maneira sinto que devo retribuir. Passo a palavra.

::::::::::::::::::::::::::

Após detalhada investigação do tema, a João e eu decidimos esterilizar (isto é, castrar) o Rafy. Neste exacto momento, 99,9% por cento dos potenciais leitores deste blog estão a pensar

O quê?!?!? Que horror!!!!!

No entanto creio poder vaticinar que a maioria mudará de opinião no final deste post. Ou talvez não: continua a ler para saber se a tua opinião se altera.

No processo de aprendizagem sobre como cuidar do meu futuro cão, uma tarefa que assumi com um misto de responsabilidade severa e de indisfarçável alegria, vi, entre muitos outros tópicos, várias referências à esterilização de cães, tanto machos como fêmeas. Em tempos muito remotos li algo sobre o assunto, em sites de direitos dos animais, mas tinha ficado com a ideia de que a única razão para o fazer seria o controlo populacional, e nada mais. Seria, portanto, uma vantagem para o colectivo, mas não necessariamente para o individuo.
A minha primeira reacção foi de um certo cepticismo: seria isto uma daquelas tendências estúpidas de "facilitar" a vida aos donos, estragando a vida do bicho? Lembrei-me de imediato da prática de remoção das unhas aos gatos para evitar a chatice de sofás estragados. Absurdo.

No entanto, quanto mais li mais me apercebi das semelhanças entre diferentes sites e autores:

  • os textos aos quais dei crédito são escritos por veterinários, não por amadores. Estes últimos baseam-se praticamente só na vantagem colectiva (como neste texto, em cache do google se não o conseguires ler no site original) e por isso não os tomei em consideração.
  • todos referem razões e vantagens similares, apesar de serem escritos por pessoas de nacionalidades distintas (americanos, britânicos, mexicanos, brasileiros)
  • várias das razões referidas são vantagens directa e primariamente para o cão em si, não para os donos, ou para os vizinhos, ou para quem quer que seja. Estas razões são as que verdadeiramente me interessam.
Há uma série de mitos em relação a este tema; eles nascem, quase sempre, da ignorância em relação aos factos (razões, vantagens, possíveis desvantagens e a probabilidade de estas existirem) e de uma de duas tendências: ou humanizar a experiência canina (eu não quero ser castrado, logo o meu cão também não quererá) ou naturalizá-la em demasia (não é natural castrar um animal).

A reacção emocional de repulsa e recusa desta prática (ou sequer de a mencionar como hipótese) é comum; até poderíamos dizer que é "natural". No entanto, e como em quase todas as situações, devemos informar-mo-nos sobre o tema antes de passar juízo, por forma a podermos ter uma opinião segura (e não apenas baseada no calor do momento).

Vejamos então, e resumidamente (pois não tenho paciência para grandes detalhes, para isso estão os links no final) os factos e mitos sobre o tema.

A esterilização dos cães traz várias vantagens para o animal. Também traz vantagens para os humanos que convivem com o bicho. Vejamos as primeiras:
  • Prevenção de Doenças
    Diminuição de incidências de cancro mamário, problemas de próstata, tumores perianais e hérnias.
    Eliminação total de canco testicular (claro...) e uterino (pois...) bem como outras doenças e problemas do útero.
    Poder-se-á alegar - e tem a sua lógica - que é óbvio que a remoção de orgãos elimina problemas nos mesmos. Acontece é que estes orgãos só são necessários para a reprodução, e, como veremos a seguir, é boa ideia impedi-la.

  • Diminuição de Frustração e Stress
    Um cão (macho) castrado não sentirá a frustração e stress de, apesar de conseguir cheirar cadelas com o cio, não poder abrir a porta do apartamento e do prédio e de ir à rua ver se consegue namoro. Ao perder esse instinto (que não desaparece de um dia para o outro, mas sim passado algum tempo, como se pode ver nesta foto comprometedora - apesar da falta de pontaria - do Rafy com a Maria, pós-operação) perderá a frustração que é ter o corpo a pedir algo que não vai conseguir (até porque não o deixaria, no caso do Rafy, pois como seu responsável, não quero ver-me a braços com uma ninhada indesejada e sem casa para onde ir).
    Uma cadela deixa de ter casos de gravidez psicológica (olá Maria!) com o stress e frustração daí resultante.
Estas duas vantagens globais (isto é, estes 2 conjuntos de várias vantagens individuais) são suficientes para que a esterilização do cão/cadela seja a opção a tomar, tendo em conta que as possíveis desvantagens (ver abaixo) são raras e muito menos graves que os problemas que se evitam, e que os mitos prevalecentes não são realistas.

Vejamos agora vantagens para os humanos que convivem com o cão (que tecnicamente não interessam como as anteriores interessam, mas que podem pesar na decisão dos donos):

  • Adeus à gravidez indesejada
    A cadela aparece grávida e agora há que arranjar quem fique com uma data de canitos?
    O cão namorou com a cadela do vizinho e ele ficou a braços com uma ninhada indesejada?
    Agora já não.

  • Adeus aos problemas do cio
    A cadela está agitada e stressada em casa e na rua mete-se com os cães todos?
    O cão está inquieto em casa e doido na rua?
    Agora já não.

  • Diminuição do comportamento agressivo e territorial
    Se um cão for agressivo ou territorial (gostar de marcar o terreno por todo o lado) essas tendências diminuem, regra geral, consideravelmente.

  • Aumento de concentração
    O treino do animal (se se fizer) será mais fácil pois, regra geral, o cão estará mais atento e por mais tempo, pois não ligará às distracções de origem hormonal à sua volta.

Há que referir ainda a vantagem incontornável de reduzir o excesso populacional dos cães (e gatos, já que falamos disto) : existem demasiados animais domésticos que acabam por ser mortos ou abandonados.


Eis as possíveis desvantagens:
  • Aumento de tamanho nos cães
    É possível que o cão fique ligeiramente mais alto do que ficaria se não fosse esterilizado. Ligeiramente é a palavra operativa na frase anterior.

  • Incontinência
    É possível que, em alguns casos, o cão fique com alguma incontinência. Não é raro, mas também não é comum.

  • Esterilizar é uma operação invasiva desnecessária
    Sim, mas pode impedir outras operações futuras que derivem de doenças que apanhe. Além disso, é uma operação bastante simples (sobretudo no caso dos machos) e possíveis complicações aparecem numa pequeníssima minoria de casos.

  • Esterilizar é caro
    Pois é (eu paguei 150 Euros pela cirurgia e 40 pela injecção de antibióticos), mas quem disse que ter um cão era barato? Além disso poderás estar a poupar dinheiro no futuro, impedindo doenças cuja cura pode ser mais cara ainda.

Falemos agora dos mitos (e receios) mais comuns associados a esta prática. Existem outros, mas estes são os mais comuns:

  • Os cães ficam gordos e preguiçosos
    Talvez... se não fores um dono minimamente cuidadoso. Se vires que está a ficar mais gordo, reduz a quantidade de comida (melhor ainda, de guloseimas) que lhe dás. Além disso, lá porque está menos agressivo não quer dizer que não queira fazer exercício. Sai, corre e brinca com ele e verás que não fica preguiçoso.

  • Os cães ficam frustrados e infelizes por perder a virilidade
    Esse mito nasce da ideia de que os cães e os humanos são iguais quando não o são ;)
    Ao contrário de um ser humano, o cão não tem expectativas em relação aos seus (hipotéticos) futuros filhos e não tem vontade de brincar com netos. Um cão (macho) nem sequer sabe/percebe que os cachorros que a sua, errr, namorada pariu, são seus filhos. Nos cães é apenas uma questão hormonal, não sentimental ou emocional.

  • Não é natural castrar um cão
    Pois não... mas o que é que é natural na vida de um cão? A espécie canina é radicalmente diferente de todas as espécies selvagens e bastante diferente das restantes domésticas. A vida de um cão doméstico não tem nada a ver com o que em tempos foi natural para a sua espécie. A sua sobrevivência depende, em grande medida, dos humanos com que convive, que lhe trazem ao comedor comida preparada, àgua limpa, brinquedos e tratamentos médicos. Não vivem ao relento, não têm predadores, enfim, são uns lordes, e ainda bem :)
    No entanto, e como estão à guarda de um humano, o mais acertado, creio, é que esse humano pondere o que é melhor para o seu amigo canino e por isso decida fazer todas essas coisas anti-natura aqui descritas... e esterilizá-lo. Ah, operá-los para que não morram de uma doença também é anti-natura, e no entanto nem pensarias em não o fazer!
Enfim, isto é apenas uma visão geral sobre o tema e espero que neste momento a tua opinião, se antes era negativa, tenha mudado e que concordes que o Rafy ganhará mais do que perderá com esta decisão - ou não, a mim que me importa o que penses? ;)
Seja como for sugiro que visites os seguintes links (incluindo referências para estudos científicos em alguns deles) para teres uma informação mais completa:

http://www.peteducation.com/category_summary.cfm?cls=2&cat=1625
http://www.nal.usda.gov/awic/pubs/SpayNeuter/general.htm
http://www.nal.usda.gov/awic/pubs/SpayNeuter/
http://www.terra2.com/ab/totem/castracao.htm
http://etdr.doberinfo.com/health/spayinfo.html
http://www.tuperro.com.mx/01_06_03_repro_esterilizar.html
http://www.apbc.org.uk/article4.htm
http://www.veterinarypartner.com/Content.plx?P=A&A=574&S=1&SourceID=42
http://www.veterinarypartner.com/Content.plx?P=A&A=584&S=1&SourceID=42
http://www.doghause.com/spay.asp
http://www.hsus.org/pets/pet_care/why_you_should_spay_or_neuter_your_pet.html

2 comentários :

  1. Anónimo disse...

    Olá Rafy

    Sabes que és um cão muito sortudo? Os teus donos pensam em tudo para que sejas feliz e saudavel.
    Ainda bem que já foste operado. Afinal foi rápido e nem sentiste nada. Sabes que eu tenho 1 gatinho e três gatinhas e, também, foram todos operados e vivem muito bem...talvez um pouco mais gordinhos mas, nada demais. Tu como podes passear e fazer exercício concerteza não terás o problema de 'gordurinha' a mais. Aliás, ouvi dizer que o teu dono também precisava perder o 'pneuzinho'. Assim, vão os 2 passear e beneficiam os 2 do exercício.
    Muitas festinhas, meu lindo, e até breve.
    Tia Nely

  2. Anónimo disse...

    Querido RAFY
    Descobri um texto que o meu marido e teu tio, maravilhado com a tua veia de escritor, resolveu enviar a todos os seus amigos.
    Festinhaas da tia Nely.
    "...Minha mulher trabalha numa empresa localizada no interior de um “…Condomínio Fechado para Empresas…” - assim tipo Colónia Penal para trabalhadores por conta alheia…
    Em determinada altura apareceu por lá um “canito” que, por sistema, atravessava as grades do portão e pulava para a estrada provocando forte “streesing” na Manuela pois as viaturas que utilizam aquela via, conduzidas em grande maioria por portugueses aceleras, até pareciam fazer pontaria para acertar no “RAF”, nome escolhido pela auto-proclamada madrinha…a Nela.
    Ainda para cúmulo o “bicho” era extremamente meigo, sociável, sempre pronto a correr em direcção a quem quer que se aproximasse, à procura da inevitável festinha que agradecia com longas lambidelas. Enfim, o protótipo do… “língua frouxa”!
    A Manuela não se conteve e para evitar ver o “maricas” do cão espalmado no asfalto, decidiu procurar dono. E nisto ela tem felling (ia a dizer “faro”…) pois já vários animais – cães e gatos – encontraram, por via dela, lares que os acolheram da melhor forma, e em ambientes que, confesso, me provocam inveja.
    Eu sei o que digo, pois todos os dias estou a receber fotos enviados pelos vários donos que, assim, cumprem uma “clausula” de adopção que a Nela a todos impõe - permitindo-me ( que remédio...) visionar a vida de "Lords" que a maioria dos bichos disfruta.

    O Raf foi acolhido por um casal português residente em Madrid, que depois de devidamente informados do “modelo” do bicho, do seu bom feitio, do seu excelente estado de saúde, da idade (mais ou menos…) e de serem encharcados com uma resma de fotos enviados pela Manuela não resistiram ao apelo. Embora não o conhecendo pessoalmente, os argumentos da Manuela foram incontornáveis.
    A primeira ( e única) coisa que exigiram à madrinha foi a mudança de nome: de RAF para RAFY. Aprovado o quesito foi combinada a entrega bicho, isto só depois de análise cuidadosa aos textos dos mails trocados e descortinado, pelo tal "fellingg", que o RAFY ficaria em boas-mãos.
    Depois de uma estada numa casa de pessoa nossa amiga, aguardando a deslocação propositada do novo dono desde Madrid, lá fomos despedir-nos do RAFY em meados de Julho passado. Entretanto já esteve de férias em Agosto, com os donos, no Algarve.
    Como o dono trata informática por tu, resolveu criar um Blog. Mas a sério...!
    Para quem gosta de ler um bom texto, bem construído, com graça, simplicidade, e sobretudo muita imaginação e, a quem acresça o gosto por animais, aconselho a visita ao blog do RAFY, razão pela qual me estendi nesta prosa já longa.
    Bem, para não alongar mais.
    Para os donos de cães (e não só) tomo a liberdade de chamar a atenção para a leitura da Secção ETIQUETAS e nesta, para o subtítulo Saúde onde se fala sobre ESTERILIZAÇÃO, no Capítulo 20 de Agosto de 2008 – Uma Visita à Veterinária”.
    E, se tiveram até aqui, a pachorra ler este testamento, vão ao Blog (que na Galeria comporta um montão de fotos e videos do RAFY e da sua nova família) passar um descontraído bom pedaço. Creiam que a sua leitura vai compensar esta chatice… que agora chegou ao fim.
    BLOG:
    http://rafydog.blogspot.com

    Vosso amigo
    Cândido